O distanciamento social promoveu mudanças em todas as esferas de nossas vidas. “A pandemia está nos alertando para algumas premissas que são essenciais para continuarmos nossa jornada na Terra. E a grande lição vem, de fato, do Japão, e dos países nórdicos”, destaca a diretora superintendente da Casacor, Lívia Pedreira, em entrevista ao E+ Estadão.
A materialização de algumas dessas lições está na estética de decoração das casas. Um exemplo é o estilo japandi. A nomenclatura é derivada dos termos Japan (Japão, em inglês) e scandi (um apelido para Escandinávia).
Conceitos Wabi Sabi e Hygge
A princípio, é complexo associar duas regiões de culturas distintas, mas ambas compartilham de concepções similares, sustentadas em conceitos muito relevantes para cada região: Wabi Sabi e Hygge.
Wabi Sabi é uma filosofia japonesa que reconhece o tempo e as cicatrizes que ele deixa. Em razão disso, é na maioria das vezes traduzido como a beleza da imperfeição. Por outro lado, o Hygge é o conceito nórdico de conforto e bem-estar e, em grande parte, o segredo da felicidade de países como a Dinamarca.
O estilo destaca a relevância da casa em nossa vida, situação descoberta pela maioria das pessoas no isolamento social. “O desejo das pessoas de buscar ambientes mais aconchegantes não vem, necessariamente, de querer transformar a casa inteira e colocar tudo novo, mas sim fazer pequenos ajustes de formas simples”, frisa a designer de interiores Karla Amadori, em diálogo com o E+ Estadão.
O Japandi ressalta a iluminação natural e a comodidade. Móveis com design simples, uso de cores neutras e materiais naturais (bambu, cimento, madeira e palha) são a aposta.
“A estética Wabi Sabi tem a ver, de grosso modo, com a questão da rusticidade e com a questão dos vestígios do tempo, principalmente se a gente pensar no tempo do material utilizado para a mobília, no caso da decoração, e o aspecto natural da matéria”, frisa a professora de História da Arte da Ásia na UNIFESP, Michiko Okano.
Nessa perspectiva, também há a procura por uma decoração mais singular de peças artesanais, cujas imperfeições e marcas são exclusivas, com um minimalismo proposital.
“Os objetos no Japão – tanto o mobiliário quanto a decoração da casa – têm uma importância muito grande. E o espaço não é só um suporte, ele também interage com a vida cotidiana, algo muito dinâmico”, ressalta a arquiteta Marina Lacerda.
Em síntese, a casa japonesa é calculada pelo tatame, que facilmente arranjado transforma os ambientes e oferece muitas funções.
“O próprio tatame, por exemplo, é uma planta seca que você traz como elemento do piso e você tem de trocar depois de um certo período. Daí vem a estética da efemeridade, da transitoriedade, de você valorizar esse momento em que esses materiais podem nos trazer conforto”, afirma Michiko.
Mudanças
Portanto, incorporar materiais da natureza e sentimentos para o ambiente de casa podem ser compreendidos como uma perspectiva do momento atual, destacada pelo Japandi.
“A gente vive numa sociedade muito capitalista, consumista e estamos numa época em que há uma necessidade de voltar os olhos para a relação do homem com a natureza. Nesse sentido, ter uma decoração que dialoga com a consciência dessa relação é algo muito relevante para o ser humano”, lembra a professora da Unifesp.
Enraizada no tradicional, o Japandi aparece como um elemento novo. “Seria quase que insano se a gente fechasse os olhos para tudo que a gente já produziu. A gente está em um cenário de muita insegurança, para dizer o mínimo. Não só pela pandemia, mas toda essa transição digital, da vida ganhando mais aspectos virtuais e não tão reais, então a gente volta no passado, como se precisasse trazer nossa humanidade que está presente lá atrás”, finaliza Lívia.
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